A arquitetura, em alguns casos, é concebida como uma configuração de lugares intermediários definidos, eliminando articulações entre espaços interiores e exteriores, ou seja, entre realidades distintas.
Uma das grandes contradições em arquitetura é o contraste existente entre o interior e o exterior de uma construção.
O interior pode ter continuidade e expressar-se no exterior, o uso de materiais e elementos pode ser igual no interior e no exterior, dessa forma a construção provoca pouco contraste e surpresa ao telespectador. O chamado “espaço fluente” também contribui para uma unicidade entre os espaços interior e exterior.
Em outras construções o interior é um espaço diferente do exterior. Existem vários meios de diferenciação do espaço interno e externo, uma das maneiras mais simples de contraste além do fechamento interior com paredes, é o uso de materiais diferentes internamente, assim como a diferenciação de escala, forma, textura e de luz interior. O uso de vitrais disfarçados exteriormente cria uma sensação de clausura e confere internamente efeitos surpreendentes de luz ao espectador, neutralizando a possível ofuscação interior, além de contribuir para um espaço mais complexo.
Algumas edificações possuem sua configuração externa muito simples, enquanto seu exterior pode ser complexo, ou vice-versa. Existem construções que possui uma imagem exterior dura, quadrada, rígida, entretanto seu espaço interior apresenta aberturas e saliências, criando um interior revelador. O uso e diferenciação da escala criam contrastes interessantes entre os espaços, enquanto internamente a escala é menor, externamente ela pode ser maior e se adequar à escala do entorno.
Existem complexidades que também são reveladas em corte e em planta baixa, como por exemplo, unindo planta oval com uma falsa fachada retangular, usando elementos retangulares em base circular, justapondo planta de círculos dentro de quadrados e quadrados dentro de círculos, e dessa forma, criando uma tensão no interior do edifício.
O contraste entre interior e exterior pode ser acentuado com a criação de um espaço entre o revestimento e a parede externa, que acentua os espaços fechados interiores fazendo-os aparentarem misteriosos e protegidos.
Os espaços denominados “residuais” atuam como permeio entre espaços dominantes, podem ser abertos, com a intenção de manipular a luz exterior, ou fechados, quando determinados por necessidades exteriores ou da própria estrutura.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
PAVILHÃO DA HOLANDA PARA A EXPO 2000 (HANNOVER – ALEMANHA, 1997 – 2000 - MVRDV)

O Pavilhão da Alemanha na EXPO 2000 em Hannover tem como característica principal a sua configuração disposta em múltiplos níveis que constituem, de certa forma, um prolongamento do espaço público existente sendo considerado um “parque monumentalizado”.

O fato de que a planta baixa se funde com o entorno faz com que os limites dos acessos se tornem quase que invisíveis. As paredes e pisos sinuosos do pavimento térreo são quase que um local de transição entre o solo e a natureza encontrados no entorno e a estrutura rígida em concreto e aço da edificação. Nesse caso o contraste dos materiais aplicados ao edifício no exterior e interior é mínimo.

O edifício é composto de seis pavimentos que se alternam em sua relação direta com a natureza, com espaços completamente abertos e arborizados, espaços semi-abertos e espaços fechados. Porém todos com a idéia principal de permitir o fluxo contínuo de pessoas, proporcionando também uma circulação eficiente do ar, e distribuindo a temperatura uniformemente. Nesse caso a configuração interna e externa do edifício estão ligados de tal forma que sua complexidade cria uma fusão dos elementos aplicados que também não geram contrastes claros.


IGREJA DE ALAGADOS – RENUB (SALVADOR – BA, 1979 – JOÃO FILGUEIRAS LIMA, LELÉ)

A igreja dos Alagados foi implantada no alto dominando a paisagem urbana local e contrastando com as construções pobres do entorno. O uso de materiais simples como o tijolo, a telha de barro e a madeira no exterior contribuem para minimizar esse contraste com a área em que a igreja está inserida. 

As alvenarias de tijolos aparentes interna e externamente na construção provocam pouco contraste e quase nenhuma surpresa ao telespectador, pois se trata de materiais semelhantes nos dois espaços, dando uma continuidade do exterior ao interior.
Essa insípida obra de tijolos cria uma imagem exterior dura, quadrada, rígida e a sensação de clausura, fechamento e falta de luz. No vão correspondente a nave existem venezianas fixas de madeira garantindo ventilação, e na parede correspondente ao altar foi colocado um vitral disfarçado exteriormente criando uma sensação de clausura, composto por elementos de vidro colorido fixado entre os tijolos, de modo a criar, como convém, luminosidade mais intensa nessa área, além de efeitos de luz que surpreendem o espectador, criando um espaço interior mais complexo.

O pátio de acesso atua como um espaço intermediário entre o exterior e o interior, e se comunica com a nave por meio de grandes portas de madeira. A área do pátio pode se incorporar ao espaço interno em ocasiões que se deseje ampliar a capacidade da nave (assim como a área lateral da edificação que pode ser usada para missas como púlpito ao ar livre), funcionando assim como um prolongamento descoberto do espaço interno.

A solução das abóbadas formadas por grandes arcadas de contorno com fechamento de madeira e revestidas de forma compacta na seção superior por laje nervurada, talvez tenha sido determinada por forças espaciais exteriores, mais do que pela estrutura inerente da forma.

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